Sucesso na Espanha, autora canadense Catherine L’Ecuyer defende
a volta ao simples e menos estímulos eletrônicos para as crianças por
Vinícius de Oliveira 15 de dezembro de 2017 Silêncio, menos telas, mais
paciência, mais proximidade entre a família e a criança e maior chance
ao protagonismo na escola. Em uma palestra no Seminário Internacional de
Educação Integral, em São Paulo (SP), a canadense Catherine
L?Ecuyer apresentou os principais conceitos tratados no livro endereçado
a pais e professores ?Educar na Curiosidade? (190 págs., Edições Fons
Sapientiae).
Mãe de
quatro filhos, Catherine mora em Barcelona, na Espanha, onde trabalhou
como consultora de negócios, professora universitária e atualmente
colabora com o grupo de pesquisa mente-cérebro da Universidade de
Navarra. Deste último trabalho, traz uma compilação de ?neuromitos?,
conceitos de neurociência mal-interpretados que são replicados de
maneira errada na educação, como na brincadeira do telefone sem fio.
Entre eles, está a ideia do período crítico de aprendizagem que iria do
zero aos três anos. Bobeira, segundo ela. A autora canadense também
tenta pôr panos quentes na competição que muitas vezes começa na
educação infantil. Na esperança de estarem diante de um Baby Einstein,
escolas, pais e responsáveis precisam entender que ?quanto antes e mais,
melhor? é equivocada. No livro, esta reflexão é explorada com maiores
detalhes. ?Eles não vão ficar para trás. Não vão perder nenhum trem,
porque o trem das novas tecnologias não se perde. (?) A grande maioria
das novas tecnologias que existem quando a criança tem três anos
provavelmente não existirá quando ela chegar ao ensino fundamental, ao
ensino médio ou ao mercado laboral?.
Durante
sua participação no seminário, a autora reiterou que não existem
estudos que defendam o estímulo ao uso de tecnologia nos primeiros anos
de vida. Muito melhor, segundo ela, é prestar atenção com a criança e à
criança. Veja abaixo 7 ideias que extraímos de sua apresentação:
1.
Atenção prolongada é diferente de fascinação A atenção é uma atitude de
descobrimento, de abertura ante à realidade sem o uso filtros. Isso
acontece quando a criança é protagonista de sua aprendizagem. A
fascinação, por outro lado, é uma atitude passiva, de alguém que está
acostumado a receber estímulos externos.
2.
A verdadeira atenção nasce em contato com a realidade A realidade
cotidiana deve ser encarada como um lugar privilegiado para a
aprendizagem. É tocar a terra úmida, morder uma fruta, observar gotas de
água caindo. É preciso resgatar atividades e brincadeiras que requerem
paciência ? em contraposição ao ritmo frenético dos desenhos animados e
jogos eletrônicos. ?Não sei como é no Brasil, mas na Espanha as crianças
vão para a escola com tênis de velcro porque não há tempo nem para
desamarrá-los!?, disse.
3.
Sem sentido não há atenção Existe uma frase da autora Meg Wolitzer que
nos ajuda a entender o presente: ?É uma geração que tem informação, mas
não tem contexto. Manteiga, mas não o pão. Vontade, mas não o desejo?.
4.
Na infância, o jogo desestruturado é fundamental O jogo é chave para a
aprendizagem porque permite às crianças serem protagonistas, como quando
levam um balde de água de um lugar ao outro na praia sem derramar
nenhuma gota ou quando planejam a construção de uma casa na árvore. Os
estudos demonstram que jogos desestruturados são importantes para o
desenvolvimento das funções executivas (autocontrole, planejamento,
flexibilidade), habilidades que influenciam o êxito acadêmico ao longo
da vida.
5.
Neuromitos Segundo Catherine, neuromito é uma interpretação errada da
literatura de neurociência pelo campo da educação. Como exemplo, a
autora menciona o período crítico de aprendizagem que iria do zero aos
três anos de idade (há períodos sensíveis, mas não críticos, ou seja,
podem acontecer um pouco mais tarde). Outro, ?é preciso enriquecer o
entorno das crianças para que possam aprender mais?, quando, na verdade,
isso não é necessário porque o cérebro tem uma produção de conexões que
é automática. E conclui: ?Isso nos leva à situação de que mais é visto
como melhor, e por isso bombardeamos as crianças com estímulos?.
6.
Multitarefa é a grande inimiga da atenção A psicologia e a neurociência
dizem que não conseguimos fazer duas coisas ao mesmo tempo quando
precisamos processar informação. E isso encontra exemplos no mundo real.
Um estudo de 2007 menciona que a crença na multitarefa custou à
economia americana US$ 650 milhões em erros naquele ano ? mesmo antes de
WhatsApp entrar no lugar de trabalho. Na educação, isso resulta em
maior dificuldade de aprendizagem e perda de sentido do conteúdo.
7.
?Sem atenção não há aprendizagem Estou convencida que a crise educativa
é uma crise de atenção. Nas provas do PISA (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos, feito a cada três anos), sabemos que a partir do
minuto 15 os erros tendem a se repetir com maior frequência. As crianças
precisam saber que estamos prestando atenção com elas. No ramo da
psicologia, é o que se chama de ?atenção conjunta?. Antes de prestar
atenção a um objeto, a criança olha como seu principal cuidador olha o
objeto. Se ele olha com interesse, a criança faz o mesmo. Também
precisamos prestar atenção aos nossos filhos para que eles aprendam a
prestar atenção.
Fonte: http://porvir.org/7-conceitos-sobre-a-atencao-das-criancas/